segunda-feira, 14 de setembro de 2009

SIMÃO DIAS: Um pouco de nossa História

Escola Municipal “Cícero Ferreira Guerra”
Povoado Pastinho, Simão Dias –Sergipe
Áreas de trabalho: História, Estudo do Meio e Português
Professores: Cláudia Patrícia, Luís Alberto e Gildo
Elaboração: Professora Cláudia Patrícia
Alunas-Pesquisadoras:
Josiérica de Jesus Santos
Bárbara Michele de Jesus Santos
Jéssica Pinto de Souza
Josefa Santos
Mary Ellen Santos Maroto
Jilmara de Carvalho Santana
Mirian Estrela Soares
Josefa Jussimária dos Santos Reis




Reconstruindo a história do Povoado:
Pastinho, Simão Dias-SE

Este trabalho é a efetivação de parte do projeto “Simão Dias - Uma História de Muitas Histórias” encaminhado pela Secretaria de Educação deste Município, por ocasião do aniversário da cidade. A partir dele, a Escola Cícero Guerra, localizada no Povoado Pastinho, antecipou um projeto de reconstrução da história do Povoado que seria realizado no segundo semestre de 2009, coordenado pelos professores de História e que tem como objetivo construir o histórico desta localidade e, assim, garantir a preservação da memória histórica do município partindo das origens do povoado. Diante da antecipação de tal atividade, foram selecionados quinze alunos das oitavas séries para fazerem o trabalho de campo e concretização da pesquisa, os quais foram coordenados pela professora Cláudia Patrícia (História),Luís Alberto (Estudo do Meio)e do professor Gildo (Português). A culminância dos trabalhos deve acontecer com a produção e apresentação do histórico do povoado, criação de literatura de cordel com base nesse histórico.
Além de assegurar a preservação da memória da localidade o objetivo é também contribuir ainda, para a manutenção de uma nova perspectiva da história que rompa com os relatos totalizantes utilizados como explicação de mundo, mas que marginalizam as peculiaridades.
É a partir dessa nova possibilidade de percepção histórica é que poderemos conhecer mais amplamente a história do município de Simão Dias-SE, a partir das identidades individuais, resgatando as suas especificidades, por ocasião da data de emancipação política, o dia 12 de junho, quando em 2009 faz 119 anos.
Considerando que não se tem nenhum registro que dê conta da temática aqui apresentada, a história oral foi utilizada como instrumento de pesquisa e como fonte documental. Ela nos permite conhecer, na diversidade cultural do município, um reflexo do país; as suas peculiaridades são destacadas, desafiando o desaparecimento e a má conservação dos arquivos. Desse modo, esperamos contribuir para a construção de uma história mais justa e democrática, concretizando a proposta da história oral. “A história oral possibilita novas versões da história ao dar voz a múltiplos e diferentes narradores. Esse tipo de projeto, propicia, sobretudo, fazer da história uma atividade mais democrática, a cargo das próprias comunidades (...)”. (THOMPSON, 1992:18, 19)
O povoado Pastinho, está situado há 6 Km da sede, na região centro-sul do município de Simão Dias, fazendo fronteira com os povoados Coração de Maria, Mata do Peru, Candeal Grande, Pascoal, Saco Grande e Canafistula.
Quanto ao nome do povoado, quase todos os entrevistados, atribuem a sua origem a uma nação que ficava dentro de um pequeno pasto. A existência desta nação foi muito importante na vida das pessoas, especialmente nas grandes secas. “Todos vinham pegar água, lavar roupas... e sempre diziam: vou para a nação do pastinho. E assim ficou sendo chamada essa região. Acho que foi por isso (Pretinha, 30/05/2009).
Conta dona Netinha, que morou bem perto da nação até aos oito anos, que a nação era muito diferente do que é hoje, a princípio não era muito grande. Foi na gestão de Pedro Valadares que foi ampliada. A água era bem fina e limpa. A paisagem era bem bonita com vegetação ao redor, tinha também umas plantas que nasciam dentro que botavam umas flores bem bonitas e do talo as moças faziam colares. “As pessoas tinham zelo, não é que nem hoje que uns moradores porcos deixam imundícies nos arredores e vai tudo pra nação. Hoje tem água encanada e aí ninguém liga mais.” (Netinha,02/06/2009)
Pela localização desta nação, segundo dona Netinha as terras deviam ser de propriedade do Sr. Boaventura (pai de dona Pequena e seu bisavô) antes de passar a ser patrimônio do município.
Alguns afirmam ainda que a origem do nome do povoado está associada a existência de um morador que se chamava Manoel Pastinho. Entretanto, quanto a essa hipótese existem muitas contestações, pois segundo afirmam alguns entrevistados, a exemplo do Sr. Manoel de Euclides e dona Pretinha, esse senhor realmente existiu, mas era morador do Povoado Mata do Peru e, inclusive seus descendentes ainda moram por lá. Segundo dona Pretinha, esse senhor era pai do Sr. Jove ( da Mata do Peru), e avó da senhora Djanira, viúva do ex-prefeito Abel Jacó.
Quanto à povoação, no trecho que corresponde a atual praça do povoado e ruas mais próximas, ficavam a casa e bar do senhor Zé Barbosa, que adquiriu o respectivo terreno através de compra ao senhor José Honório, após a construção da estrada que dá acesso ao Pau de Leite. A primeira casa onde morou no povoado, localizava-se no centro da atual praça e foi comprada pela prefeitura na gestão de Dona Caçula Valadares.
De acordo com moradores mais antigos do povoado, os primeiros sinais de expansão do povoamento estão associados à construção da estrada que liga a rodovia SE 361 ao povoado Pau de Leite. “Antes, tudo era mato. As poucas casas existentes na região onde hoje é o povoado, eram as de Seu José Honório, José Correia e Seu Euclides. Depois da estrada é que o terreno do Seu José Honório foi cortado no meio e ele começou a vender, como fez para Seu Zé Barbosa” (Helena, 29/05/2009).
Segundo dona Netinha, a construção da estrada se deu na segunda metade da década de 1950, quando ela tinha mais ou menos oito anos de idade. “Lembro que quando vieram construir essa estrada e tavam calçando de pedra esse lugar do lado de onde hoje é minha casa, eu tinha uns oito anos e ganhava quinhentos réis dos trabalhadores para cantar e dançar aquela música “Carolina foi a um samba, Carolina, pra dançar um chen en em, Carolina...” acho que é de Luíz Gonzaga e tava no auge.” (Netinha, 02/06/2009). Quanto a isso, Seu Alfredo, pastor da Igreja Assembléia de Deus e morador do Povoado há 30 anos, disse que foi na gestão do prefeito Pedro Valadares que foi construída essa estrada, que inclusive, dá acesso a fazenda da família Valadares, no Povoado Pau de Leite.
A casa do senhor Zé Barbosa era muito conhecida e visitada pelos moradores das redondezas. Era uma espécie de bar e mercearia que atraía as pessoas inclusive pela existência da televisão, para encontros dos namorados e, desta forma, acabou sendo ponto de referência na região, de modo que algumas pessoas chegavam a usar o nome Zé Barbosa como sendo o nome do lugar.
Também tinha a casa de dona Pequena, avó de dona Netinha que ficava onde hoje é a casa de Dedé do Pastinho (neto de dona Pequena) e a casa do senhor Sancho onde hoje fica a rua que liga o povoado a rodovia. Ao lado da casa de dona Pequena, tinha uma Santa Cruz (capelinha) na qual eram rezadas novenas no mês de maio, ou quando alguém queria pagar promessas. De acordo com dona Netinha, foi a sua avó (dona Pequena) quem construiu a capelinha, mas não sabe o que a motivou fazer isso. “Não sei, talvez tenha sido pra enterrar algum anjo.” (Netinha, 02/06/2009)
Posteriormente no lugar da Santa Cruz, o senhor Zé Barbosa doou o terreno e Dedé do Pastinho, que, com o apoio da comunidade, construiu uma capela bem maior onde são realizadas as missas para a comunidade católica.
Além da construção da estrada, um outro fator foi a construção da Escola “Cícero Guerra”, no ano de 1978, na gestão do prefeito Abel Jacó dos Santos. Sobre a existência dessa escola é imprescindível considerar a doação do terreno pelo senhor Zé Barbosa, que ao aumentar a família e, não querendo que os seus filhos fossem estudar longe de casa e fez a doação do terreno à prefeitura. No local, antes era apenas um pasto onde havia um tanque. A princípio, foram construídas apenas duas salas de aula e tinha também atrás um campinho de futebol.
Em 1979, foi construída a Igreja Assembléia de Deus pelo senhor José Pinto de Souza, conhecido por Jozias (filho do senhor José Honório) que é sogro do senhor
Alfredo, atual pastor da referida igreja. Além da igreja, também foram construídas algumas casas ao lado que pertenceriam a mesma família. Sem dúvida, a construção desta igreja também foi fundamental para o crescimento do povoado.
Como sinal do desenvolvimento e ainda como novo fator que contribuiu para a expansão do povoado, foi a chegada da energia elétrica no governo de Augusto Franco. A conquista da energia foi resultado de um abaixo-assinado criado pelo Sr. José Pinto e pelo Sr. Alfredo que pessoalmente foram levar ao governo estadual. Conta Seu Alfredo que na época em que fizeram o abaixo-assinado, no povoado tinham apenas 15 casas e que foi a partir dessa conquista que o povoado de fato cresceu.
Contribuíram ainda para o desenvolvimento do povoado a existência de uma associação de moradores a partir de 1986, que tendo o Sr. Alfredo como presidente durante muitos anos, foram feitas reivindicações e parcerias junto ao Projeto Nordeste e, posteriormente, o PRONESE que resultaram, por exemplo, na chegada da água encanada, da casa de farinha e do calçamento do povoado. O primeiro calçamento foi feito na gestão do prefeito Luiz Albérico e, posteriormente já na gestão de José Valadares foi feito o complemento até a rodovia SE 361. Quanto a casa de farinha, durante muito tempo, a produção da mandioca na região era grande e, em função disso, a Associação fez um projeto para adquirir uma casa de farinha via PRONESE, a qual foi construída e passou a funcionar na última gestão do prefeito Manoel Ferreira de Mattos (Caçulo). Atualmente essa casa de farinha ainda existe, entretanto, segundo Seu Alfredo como ninguém mais cultiva mandioca na região, então está sem funcionamento, embora tenha toda a aparelhagem lá.
Além da construção da nova estrada que dá acesso ao Povoado Pau de Leite, da construção da escola, das igrejas, da energia elétrica, da associação de moradores, da água encanada, da casa de farinha e do calçamento, também a da torre de telefonia fixa foi um importante fator que contribuiu para o desenvolvimento do povoado, facilitando a comunicação e dando mais comodidade aos moradores.
Quanto à economia, desde as primeiras povoações, a economia do lugar era basicamente agrícola e de subsistência. A paisagem era de mata e nos arredores eram feitas pequenas roças onde cultivavam, principalmente mandioca, milho, feijão e batata. Alguns criavam algumas cabeças de gado, mas apenas o necessário para o consumo de leite da família. Como complemento familiar, foi bastante significativa a produção da cerâmica realizada pelas mulheres que faziam, principalmente porrões, potes, formas para dar água aos animais, lajes para fornos de casa de farinha e tijolos. A atividade era desenvolvida por quase todas as mulheres do povoado e toda essa produção era vendida nas feiras de Simão Dias, Poço Verde, Lagarto, entre outras.
Anos mais tarde, a associação de moradores, através do Projeto Nordeste montou uma espécie de oficina de trabalho onde as pessoas da comunidade iam aprender e trabalhar com a cerâmica utilizando o torno para produzirem peças diferenciadas das que estavam acostumadas. Eram produzidos, por exemplo, vasos de decoração. Essa oficina funcionava na casa que havia sido do Sr. José Pinto e a produção era vendida e dividido o lucro pelos próprios artesãos, que nesse caso eram homens, mulheres e até crianças.
Atualmente, o trabalho com a cerâmica ainda é realizado como nas suas origens, de modo artesanal, entretanto, num volume bem menor. Com destaque para a produção de Dona Carmem que mantém há anos uma freguesia de Caruaru, para quem entrega a maior parte de sua produção. “Hoje entrego as peças que produzo para o filho de um antigo comprador de Caruaru. Ele compra de vez mais ou menos cento e cinqüenta peças, mas demora pra encomendar. Às vezes passa um ano, dois...” (Carmem, 02/06/2009)
A vida da comunidade era marcada ainda, pelo intenso contato entre os moradores através das visitas aos domingos, dos encontros para assistir televisão, as danças de roda na casa de dona Pequena, os reisados na casa do senhor Euclides, do São Gonçalo e dos pagodes na casa do senhor José Correia, dos casamentos que eram comemorados ao som da consertina, pé de bode, o que hoje conhecemos por sanfona. Segundo dona Finha Correia (filha do senhor José Correia) os forrós na casa do seu pai eram bem famosos e animados. “Naquele tempo bastava bater uma cuia o povo já estava brincando e não tinha briga nenhuma, não é como hoje não.”(Finha Correia, 30/06/2009). Ela relata que, quando estavam construindo a rodovia que liga Simão Dias à Poço Verde, quando o Sr. José Correia passava, os trabalhadores diziam: “Seu Zé Correia vai ter cabaré aí hoje? E ele ficava aborrecido.
O senhor Sinhô Correia (filho de José Correia) ao lembrar do espírito festivo de seu pai, relatou uma passagem em que tendo ido trabalhar na fazenda do senhor João Pinto com outros cinquenta homens do povoado Pastinho, foram surpreendidos pela presença de Lampião, que tendo ficado sabendo que ele sabia tocar rialeixo o obrigou a tocar durante toda a noite enquanto o bando dançava. E, no dia seguinte amanheceu com o rosto todo inchado.
Uma outra diversão, eram as meladinhas. “Como naquele tempo as mulheres produziam mais, então umas iam para casa das outras nos domingos e lá matavam capão e serviam meladinha para os amigos... era casa cheia. Quem não queria comer e beber de graça.” (Manoel de Euclides, 30/05/2009)
A partir de 1980, a comunidade contou com outras atividades. Os cultos da Igreja Assembléia de Deus são realizados desde a sua origem todas as terças, quintas e domingos. Além dos cultos e do trabalho social, a igreja também criou em 2003, uma banda com vinte e dois componentes da comunidade, a qual tem se apresentado tanto na igreja local como em diversas outras igrejas, inclusive da capital do Estado.
Atualmente, o lazer da comunidade é vivenciado nos encontros nos bares, nos torneios de futebol, nas serestas, no natal fora de época, nos circos que ocasionalmente acampam na pracinha e nas festinhas da escola.
Como vimos, para conhecer a história município de Simão Dias-SE, é muito importante considerar as especificidades do povoado Pastinho que constitui parte do referido município. O povoamento desta localidade pode ser associado à construção da estrada que dá acesso ao povoado Pau de Leite, que se deu por intermédio de Pedro Valadares, certamente para facilitar o acesso e garantir a valorização da sua fazenda. Prática política muito comum no município e, por que não dizer no Brasil, como resquício do coronelismo.
Para o crescimento desta povoação, foi imprescindível a atuação, especialmente, de duas famílias: a do senhor José Honório, pai de José Pinto, que ao lado do seu genro o senhor Alfredo construiu a Igreja Assembléia de Deus, casas residenciais, um mercado comercial e foram os idealizadores da Associação de Moradores que possibilitou a vinda de muitas melhorias para o povoado, conforme citado anteriormente; também a família do Sr. Zé Barbosa, que além de atrair visitantes para o lugar com o seu comércio, também foi o doador do terreno para a construção da escola. Claro que motivado pela necessidade de garantir escola próxima para os seus filhos, mas que, como conseqüência, muitas outras famílias são beneficiadas, pois atende atualmente a uma clientela de 641 alunos dos mais diversos povoados da região. Além de também ter sido doador do terreno para a construção da Igreja Católica.
A vida cultural do povoado também refletia os costumes do município, através da produção de cerâmica, das danças de roda, do são Gonçalo, do reisado, das novenas, dos forrós, das meladinhas, entre outros. E, por que não dizer, da agonia do senhor José Correia, quando foi obrigado por Lampião tocar a rialeixo a noite inteira e amanheceu de “beiço” inchado, como disseram Seu Sinhô Correia e Seu Lídio (filho de Seu Euclides)
Portanto, faz-se necessário destacar que este trabalho, além de ter sido prazeroso por proporcionar aos alunos a experiência da reconstrução histórica através da história oral, também os levou a se identificarem e reconhecerem os moradores deste povoado como agentes históricos. Desta forma, possibilitou também a percepção de que a história é construção de toda a humanidade e não apenas de alguns que durante muito tempo tiveram o privilégio de terem os seus nomes registrados nos textos históricos. E, mais ainda, após a conclusão deste trabalho, também vislumbramos que ele pode servir de referência para muitos outros que devem ser estimulados, não somente sobre esta localidade como em todas as outras do município de Simão Dias, como forma de assegurar a preservação da memória do município através do resgate das particularidades que compõe cada um dos seus povoados.









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