quarta-feira, 29 de abril de 2009

Artigo da professora Cláudia Patrícia sobre "Educação e Práticas Culturais em Simão Dias (1960-1990)"

Educação e Práticas Culturais em Simão Dias (1960 – 1990)

Cláudia Patrícia Silva de Santana
O presente trabalho se propõe resgatar parte das práticas culturais de Simão Dias – SE dando ênfase àquelas promovidas pelas Escolas ou que exerceram uma relação estreita na formação educacional desta sociedade a partir da década de 60 quando a cidade vive um processo de transição econômica, e conta com algumas escolas que têm atuação marcante na vida sócio-cultural da cidade, a exemplo das Escolas Reunidas “Augusto Maynard”, da Escola “Fausto Cardoso”, o Ginásio Industrial e do Colégio “Carvalho Neto” – até a década de 80 quando se percebe significativas transformações nas expressões culturais da cidade.
É importante considerar que por muito tempo, a historiografia se dedicou ao estudo dos grandes processos ocorridos em longos períodos da História, com a predominância de uma análise que voltava sua atenção para as grandes unidades nacionais e para as macro-estruturas.
Atualmente, registram-se trabalhos que apresentam outra perspectiva da história, preenchendo lacunas, rompendo com os relatos totalizantes que serviam como explicação de mundo e marginalizavam as peculiaridades históricas.
A partir dessa nova possibilidade de percepção histórica é que se pode conhecer mais amplamente as identidades individuais, resgatando as suas peculiaridades.
É, portanto, com esse olhar, que foi utilizada a história oral como instrumento de pesquisa e como fonte documental. Ela permite conhecer, na diversidade cultural da cidade, um reflexo do país. As suas peculiaridades são destacadas, desafiando o desaparecimento e a má conservação dos arquivos. Desse modo, se espera contribuir para a construção de uma história mais justa e democrática, concretizando a proposta da história oral. “A história oral possibilita novas versões da história ao dar voz a múltiplos e diferentes narradores. Esse tipo de projeto, propicia, sobretudo, fazer da história uma atividades mais democrática, a cargo das próprias comunidades (...)”. (THOMPSON, 1992:18,19)
Para tanto, este trabalho está organizado em duas partes. Na primeira se tem um perfil da sociedade simãodiense sob a ótica cultural e, na segunda, se tenta apresentar as contribuições que as diversidades culturais exerceram no campo educacional, como também a interferência que as Escolas tiveram na construção deste mosaico que foi a cultura desta cidade do interior sergipano.
Simão Dias está localizada no centro-oeste do Estado de Sergipe, limitando-se ao norte com Pinhão, Pedra Mole e Macambira; ao sul com Riachão do Dantas e Tobias Barreto; a leste com Lagarto e a oeste com Tobias Barreto, Poço Verde e Paripiranga, no Estado da Bahia. Possui uma superfície total de 500 KM2 e um clima quente e seco, onde a vegetação predominante é a caatinga.
Sua população atual é de 36.813 habitantes, sendo 18.029 homens e 18.784 mulheres distribuídos entre zona rural com 19.995 habitantes e a zona urbana com 16.818 habitantes. (IBGE, 2000)
Desde suas origens ocupou um lugar privilegiado no Estado, tendo sido a segunda cidade do interior sergipano a servir-se de luz elétrica, inaugurada em 1922, e recebido os títulos de “Celeiro da Província”; “Grande Empório Sertanejo” e “Princesa do Sertão” por sua grande produção de cereais e pela sua feira que atraía pessoas de diversas cidades dos Estados de Sergipe e Bahia. Além de muitos nomes dentre os seus filhos terem se projetado no cenário estadual e até nacional. Entretanto no período enfatizado neste trabalho é importante destacar que sua economia já vivia momentos de crise, a qual se inicia no final da década de 60 proveniente da orientação da economia voltada para a pecuária de engorda, que toma as terras antes ocupadas pela agricultura e que pouco se preocupa com o setor industrial, faltando incentivo às pequenas fábricas que são sufocadas pelas constantes novidades trazidas através do processo de industrialização no final da década de 60 e acabam desaparecendo por não serem capazes de concorrer com os produtos vindos dos centros do país, o que vai gerar o desemprego da população e declínio na economia de Simão Dias conforme podemos perceber no relato a seguir:

(...) por exemplo, o meu pai que trabalhava de alfaiate. Os quatro alfaiates tinham trinta e duas pessoas que trabalhavam pra eles. Eram trinta e duas famílias. Então, tinha alfaiate, tinha quarenta sapatarias em Simão Dias, tinha curtume, é... todo mundo fazia cela e, depois da industrialização tudo se acabou. Agora, você vai na loja compra uma roupa, compra um sapato... (SANTOS, 25/01/2002).

(...) A indústria de calçados declinou porque não houve a modernização de equipamentos, era coisa feita artesanalmente. O calçado passou a ser produzido no sul do país através de máquinas, passou a ter a qualidade melhor, um preço melhor e o calçado de Simão Dias declinou. (REIS, 22/08/2002).

Até o final da década de 60, embora não dispusessem das facilidades provenientes das inovações tecnológicas, os simãodienses gozavam de uma vida bem mais digna e de condições favoráveis a uma produção cultural diversificada, firmando-se a cidade como uma das mais desenvolvidas do Estado.
É também importante frisar o promissor nível intelectual que, segundo Déda, caracterizaria Simão Dias desde os primórdios a se observar nas redações do primeiro jornal, “A Idéia”, que provavelmente circulou por mais ou menos quatro anos desde 1878 e apresentava uma redação editorial e noticiário de boa qualidade para os padrões da época.
Depois do jornal “A Idéia”, sabe-se apenas que em 1912 surgiu “O Simãodiense” que circulou até 1916, ficando suas oficinas a serviço de pequenos jornais de teor humorístico. Estes tiveram curta duração, a exemplo do “Bem-Te-Vi” e de tantos outros que se perderam. Em 1917 surgiu “A Luta”, semanário noticioso e literário com oficinas próprias, cujo fundador e diretor era o jornalista Emílio Rocha. Circulou até 1937, quando seu fundador se mudou para o Rio de Janeiro. Durante a sua circulação, assumiu um caráter político e social, lançando campanhas para diversas realizações na cidade, a exemplo do hospital Bom Jesus. Além desses, circulavam também “O Progresso” (1921), “O Cine-jornal” (1925), “O Oráculo” (1926), “O Sergipe” (1927) e “A Semana”, semanário fundado em 1946 por Carvalho Déda e que circulou durante toda a década de 60.
Como podemos observar, o povo simãodiense teve uma vida cultural bastante ativa e até com toques de sofisticação, como é o que podemos notar tanto no relato anterior como também nas palavras de um conceituado professor que vive nesta cidade desde 1948.
Simão Dias tinha um destaque. Aliás, isso não é nos anos sessenta, já é muito antes, mas haviam tertúlias nas festas de Santana. Aquela estudantada, da elite abastada, quando chegava não ia para os botequins beber cachaça, conversar besteira e dizer piadas de mau gosto às donzelas. Eles reuniam-se, com elas também, claro e faziam bailes familiares. Nesses bailes haviam declamações de poemas, haviam cânticos acompanhados por regionais. E, participavam desses eventos, não sé os intelectuais filhos de gente importante, mas os sapateiros e os alfaiates que formavam uma espécie de elite financeira. (RIBEIRO, 23/08/2002).

Podemos verificar ainda em outro trecho da entrevista do referido professor que a boa leitura fazia parte dos costumes dos simãodienses, mesmo daqueles que tinham pouca formação educacional e vinham do campo, provocando admiração mesmo daqueles que desconheciam totalmente a leitura:
(...) Eu lembro o nome de Seu Sinézio Jacó, alfaiate, que sendo um homem que tinha quarta série primária, feita na mata, no campo, a leitura dele era Basílio Catalacastro, era Gerônimo Gueilos, da Academia Sergipana de Letras; Rui Barbosa... Era um povo assim. Não eram todos, mas quem não tinha condições de ler (que havia muito analfabeto) quedava-se, estasiava-se diante dessas belezas. (...). (RIBEIRO, 23/08/2002).

Nas programações e eventos que movimentavam a vida cultural simãodiense, destacam-se as festas de Sant’Ana, os bailes familiares que aconteciam tanto nas residências particulares quanto em clubes como era o caso da ADS (Associação Desportiva Simãodiense), que deu origem ao Cayçara Club e, posteriormente, o clube do BNB (Banco do Nordeste) e a A. A. S. D. (Associação Atlética de Simão Dias) a partir do começo da década de 80. Além desses bailes, também podemos mencionar os recitais e os dramas que eram apresentados no Cayçara Club, nos espaços dos cinemas, bem como nas Escolas Reunidas, sem esquecer dos saraus que aconteciam em datas comemorativas na casa das famílias abastadas. É importante lembrar que a festa de Sant’Ana, de caráter estritamente religioso, era ocasião para realização de festas no clube, e, provavelmente a partir da década de 80, também de festas de rua que eram promovidas pela Prefeitura e com boa programação nos palcos e nos trios elétricos, atraindo gente de toda parte do Estado que superlotava os hotéis existentes e abarrotava a Praça Nicanor Leal com barraquinhas de acampamento.
Somam-se a estes eventos os famosos cordões carnavalescos e as festas juninas que aconteciam nas ruas da cidade, as quais eram ornamentadas a rigor para receber as pessoas vestidas tipicamente. “Os carnavais eram cordões carnavalescos no estilo de Olinda e Recife. A instrumentos de sopro com bateria e cantando e dançando canções de tipo de marcha-rancho e semelhante, ou então, aquelas marchinhas da moda. (...)”. (RIBEIRO, 23/08/2002)
As Igrejas, tanto a Católica quanto a Presbiteriana, exerceram importante trabalho de incentivo ao desenvolvimento da atividade cultural ligada às artes cênicas. No caso do teatro, teve suas origens ligadas à Igreja Presbiteriana e foi por ela estimulado quando, sob a orientação da professora Carmem Dantas e outras senhoras da sociedade, organizavam-se várias dramatizações, bailados e inúmeros cantos apresentados por estudantes e demais pessoas da sociedade com o objetivo de angariar fundos para trabalhos sociais com as crianças pobres, bem como para a Sociedade de Assistência aos Lázaros e Defesa Contra a Lepra ( cf. JESUS, 24/01/2002 ).
Não poderíamos deixar de citar a Associação da Juventude Idealista (AJIS) que era um movimento liderado por membros da Igreja católica, inclusive pelo padre Almeida, através da qual foram promovidas muitas palestras e conferências, além de ter oferecido a primeira biblioteca à população simãodiense. (Cf. REIS, 28/08/2002).
A comemoração do Centenário da cidade, em 12 de junho de 1990, foi também um evento significativo.
A festa do Centenário de Simão Dias foi um esplendor. (...) Foram concedidas medalhas do Centenário. Criada a nova bandeira do município; o brasão oficial e a medalha Carvalho Neto, para as pessoas que se destacarem em qualquer campo, seja do saber, seja da ciência, do artístico, seja lá do que for. (...) E, foi criado o Memorial de Simão Dias. Foi festa o dia todo, de alto nível. (...) [com] a apresentação da Orquestra Sinfônica de Sergipe e outras solenidades desse nível (...). (RIBEIRO, 23/08/2002)

A “Lira Santana” é também uma divulgadora e promotora de cultura na cidade. Além de se apresentar em outras cidades, conta com uma escolinha de música para crianças e adolescentes.
O aspecto esportivo era também muito movimentado e promovia o lazer da comunidade através dos torneios de voleibol, futebol, pingue-pongue. Quando os times de Simão Dias concorriam com os de outras cidades, era uma verdadeira festa que mobilizava os moradores.
(...) O pingue-pongue, tinha torneios entre Simão Dias e Paripiranga. Vinha o pessoal de Paripiranga pra Simão Dias. Eram turmas. Tinham duplas ou individual. Aqueles torneios eram uma festa. (...) Eu me lembro que um desses torneios, Simão Dias ganhou e nós entramos aqui como heróis. Não passava de uma brincadeira, mas tudo isso era uma mobilização, então não tinha essas facilidades [de hoje], mas se criavam maneiras de conviver. (...). (OLIVEIRA SOBRINHO, 30/01/2002)

Além dessas atividades, aconteciam várias outras, como os quebra-potes, as apresentações da banda de pífanos, o arraial armado na Praça Jackson de Figueiredo, onde eram apresentadas as quadrilhas, tanto locais quanto de cidades vizinhas; além de “shows” com artistas da terra e também de fora.
Esse passado justifica a nostalgia presente nos relatos daqueles que foram os jovens personagens dessa sociedade no referido período, bem como, a insatisfação de uma grande parcela da juventude atual com relação às poucas opções de lazer de que dispõem.
A riqueza cultural de que Simão Dias dispôs durante o período em questão deixou marcas que permanecem na memória histórica da cidade.
Aquele promissor nível intelectual da sociedade de que DÉDA (1967) menciona fundamentando-se nas redações jornalísticas rendeu a alguns de seus feitores o nome de algumas escolas do município a exemplo de Carvalho Déda e Emílio Rocha talvez como uma forma de reconhecer a contribuição que estes deram para a informação, formação educacional e divulgação dos eventos promovidos pelas instituições educacionais locais, dentre outros espaços que compuseram a cultura desta cidade. A esse exemplo pode-se citar o Cayçara Club, o Cine Ypiranga e o Cine-Brasil, locais onde ocorriam os principais acontecimentos da cidade. Lá eram realizadas as formaturas de curso primário das Escolas, as quais eram muito bem organizadas com todo o ritual correspondente a uma formatura de nível superior; além disso as apresentações teatrais dirigidas pela professora Carmem Dantas, Clarita Santana e outras pessoas da sociedade eram apresentadas nestes espaços e geralmente com casa cheia. Esse tipo de atividade tinha como objetivo muitas das vezes, o de angariar fundos para resolver algum problema de ordem social como por exemplo, ajudar no tratamento de leprosos e arrecadar alimentos para as famílias mais pobres.
Haviam também seminários, debates e os júris-simulados que eram promovidos principalmente pela direção do Colégio “Carvalho Neto”. Esses seminários e debates abrangiam as mais diversas temáticas e visavam reforçar o desenvolvimento intelectual dos cidadãos, como também promover o senso crítico e o espírito de participação dos mesmos. Um outro evento com essas características eram os júris-simulados que envolviam toda a comunidade escolar num trabalho que geralmente tratava de uma questão histórica e era levada a discussão e julgamento da comunidade. Num desses júris, foi trabalhada a questão da Inconfidência Mineira , dentre outros tantos assuntos que então foram abordados. Como o Colégio “Carvalho Neto” tinha em seu corpo docente muitos professores que estudavam ou trabalhavam na área de Direito, isso deve ter sido responsável pelo sucesso desse tipo de apresentação que conseguia envolver a sociedade das discussões dos conteúdos que faziam parte do programa escolar ( cf. RIBEIRO, 23/08/2002 ). Com atividades como estas além de conseguir alcançar os objetivos referentes ao conhecimento histórico, também se conseguia trabalhar a espontaneidade do aluno, tornando comum a expressão e fala diante de um público, vencendo um “medo” que se constituiu ao longo dos anos por uma cultura que só dá vez e voz aos dominantes.
É importante ressaltar que pessoas com iniciativas desse tipo tiveram os seus nomes lembrados na memória histórica desse povo, como o de Carvalho Déda que recebeu o nome de uma Escola e de uma medalha que consagraria honra ao mérito às pessoas que se destacassem nesta sociedade. Essa medalha (título) foi criada durante a programação de comemoração alusiva aos cem anos da cidade em 12 de junho de 1990.
O evento anteriormente mencionado deve ser considerado como um marco cultural de destaque para a história e contou com a grande participação das escolas através de apresentações teatrais, declamações e até de um coral composto pelos alunos da Escola Dr. “Milton Dortas”, antigo Ginásio Industrial, os quais se apresentaram cantando o hino do município cuja autoria da letra e da música é do professor Udilson Soares Ribeiro, docente da referida Escola.
Conforme já foi mencionado o teatro foi uma atividade muito vivenciada por essa comunidade escolar. A sua origem nesta cidade remonta ao final do século XIX e começo do século XX quando vivem o seu apogeu tendo como fundadores membros da Igreja Presbiteriana e contando com a orientação de profissionais da área vindos de fora. (Cf. DÉDA, 1967) Daí vem todo esse gosto pelas artes cênicas que é reanimado por dona Carmem Dantas, junto a outras senhoras da sociedade, nas Escolas Reunidas “Augusto Maynard” que oferecia diversos tipos de saberes aos seus alunos, inclusive o artístico, pois contava com estrutura apropriada. Entretanto é importante frisar que na década de 60 esta escola, já não funcionava com as mesmas condições de antes e vive um processo de decadência e extinção. Mas essas apresentações teatrais continuaram acontecendo no Cayçara Club ou nos prédios dos cinemas.
Por sua dedicação a educação e às questões sociais desta sociedade é que uma escola estadual recém-construída recebeu o nome de Carmem do Prado Dantas do Amaral.
Também contribuiu com a educação, a Igreja Católica, especificamente através do movimento AJIS que era uma espécie de grupo de jovens que, liderado pelo Pe. Almeida se reuniam para discutir sobre as mais diversas questões que envolvem a sociedade. Além disso, também promoviam seminários, conferencias no sentido de levar a comunidade a pensar a sua história e, conseqüentemente, atuar nela. Talvez a maior contribuição desse movimento da Igreja para a educação, tenha sido a criação e manutenção da primeira biblioteca da cidade. Não se sabe exatamente o período de origem e extinção deste movimento, mas segundo alguns dados adquiridos através da história oral, ele teve a sua fase áurea na década de 60.
Um aspecto marcante da história da educação em Simão Dias é a fervorosa competição entre as duas maiores escolas: a “Milton Dortas” (antigo Ginásio Industrial) e o Colégio “Carvalho Neto”. A primeira trata-se de uma escola da rede estadual de ensino e a segunda é vinculada a CNEC. Essa rivalidade se tornava bastante evidente nos principais eventos promovidos ao longo do ano por ambas. Tome-se como exemplo as novenas do mês de maio e os desfiles de 7 de setembro. Quando aproximavam-se essas datas, toda a comunidade escolar entrava num clima de cooperativismo: funcionários, pais e alunos ajudavam da forma que podiam. Havia um investimento físico e financeiro muito alto para que nesses dias as escolas se apresentassem da melhor forma possível. E isso,, no que diz respeito ao 7 de setembro, significava representar fielmente os personagens e fatos históricos, com carros alegóricos e pelotões de alunos fardados que intercalavam as diversas partes representativas. Todos marchavam ao som da banda marcial dessas escolas (compostas pelos alunos) e muitas vezes acompanhados da Sete Bandas de Aracaju. Nesses desfiles, as escolas reproduziam os costumes militares e o sentimento patriótico da época.
“Então tinha aquela estrutura. Os alunos aprendiam a todos aqueles toques militares: À direita! À esquerda! Avançar! Sentido! Alto! Lá vai... Continência à bandeira. E, quando se esperava uma autoridade como o Governador, ou seja lá quem for, todas aquelas continências eram feitas. Inclusive, se a autoridade atrasasse duas horas, o aluno passava duas horas de pé sem se mexer. Só saía se desmaiasse. (...) Era uma festa. Uma festa de abrangência muito grande, tanto intelectual como social”. (RIBEIRO, 23/08/2002)

Nas novenas do mês de maio, embora fossem festas de caráter religioso, essa competitividade entre as escolas era também bastante acirrada. Tudo se avaliava desde o cortejo, à ornamentação da igreja, as ofertas até a celebração. E neste caso, o Colégio “Carvalho Neto” ficava na vantagem porque tinha o compromisso de organizar sempre a última novena, que era a coroação de Nossa Senhora e além de ser a noite mais esperada pela comunidade, os organizadores já tinham visto a novena do “Milton Dortas” que acontecia sempre no dia 9, dando tempo suficiente para que eles preparassem uma novena que impressionasse o público superando esta última.
A concorrência chegava a ser tão forte que, nos desfiles de 7 de setembro, algumas pessoas ficavam apenas com a tarefa de ir de uma escola para outra ver o que cada uma tinha para apresentar. Mas, aos poucos esse desfile de “plumas e paetês” foi assumindo um caráter menos sofisticado. O dourado foi desaparecendo, os carros alegóricos já não eram tantos, até que na segunda metade da década de 80, a “Milton Dortas” surpreendeu com um desfile cívico sem carros alegóricos. Apenas os alunos fardados em pelotões puxados pela banda marcial da Escola e as Sete Bandas. Por outro lado, o “Carvalho Neto” ainda mantinha todo o brilho e ostentação de outrora. Entretanto, a partir deste, os desfiles passaram a ser mais simples e com um caráter apenas simbólico chegando, até a sua extinção e sendo substituídos posteriormente pelos desfiles das escolinhas particulares, a exemplo da “Pingo de Gente” durante a semana da Pátria e no dia 7 geralmente as pessoas se deslocavam para Lagarto onde esses desfiles continuam acontecendo. Quanto às novenas, continuam acontecendo geralmente nas mesmas datas, mas também não contam com a ostentação de antes.
Apesar, dos desfiles destas escolas terem sido extintos e das novenas terem assumido um aspecto mais simples, a competição entre essas escolas embora de forma mais sutil ainda se mantém.
Uma outra prática dessas escolas eram as formaturas que, tanto do curso primário, a exemplo das do Grupo Escolar “Fausto Cardoso”, quanto do ginásio e, posteriormente do 2º grau, contavam com a celebração de uma missa onde geralmente os formandos iam acompanhados de seus padrinhos em cortejo pelas ruas da cidade e após a missa acontecia a colação de grau e o coquetel que normalmente era no Cayçara Club ou nos espaços dos cinemas.
“(...) formavam-se os alunos do Grupo Escolar “Fausto Cardoso” no quarto ano primário, então, as solenidades daquela turma era no Cine Ypiranga. Tinha paraninfo, orador, os padrinhos que acompanhavam os afilhados para receber o diploma (...)”. (SOBRINHO, 30/01/2002)

Durante os festejos juninos, as escolas também tinham participação realizando tanto atividades internas quanto realizando apresentações de quadrilhas e casamentos caipiras nos arraiais da cidade.
Com as inovações tecnológicas e as novas opções de lazer que vão transformando as expressões da cultura, somadas ao crescente declínio da economia desta sociedade, que impossibilitam a realização de certas atividades antes existentes, podemos observar que o período estudado corresponde a um momento em que a industrialização proporciona inúmeras alterações na vida cotidiana das pessoas. A nível nacional tais alterações podem ser percebidas, com clareza, através da produção cultural que ganha um novo rumo, agora com caráter comercial, seguindo os padrões da produção econômica.
(...) os lazeres abrem os horizontes do bem-estar, do consumo e de uma nova vida privada. (...).
(...) significa que o lazer não é mais apenas o vazio do repouso e da recuperação física e nervosa; não é mais a perticipação coletiva na festa, não é tanto a participação nas atividades familiares produtivas ou acumulativas, é também, progressivamente, a possibilidade de ter uma vida consumidora. (MORIN, 1969:72-73)

A universalização das culturas acaba provocando o sentimento de perda de identidade cultural dos paises, principalmente os subdesenvolvidos. Mesmo no caso do Brasil, que tem uma diversidade cultural interna muito intensa. É esse modo da perda que conduz à valorização das diversas expressões da “cultura popular”, para que não sejam destruídas e substituídas por uma produção cultural descartável, fruto de uma sociedade movida pelas inovações tecnológicas provenientes da indústria.
Exemplificando essa valorização da cultura popular, em termos locais os grupos folclóricos, a exemplo do samba de coco, que, apesar de ter sido sufocado pelas transformações culturais, vem tentando se reerguer através de alguns de seus ex-participantes que o ensinam aos seus descendentes e a alguns admiradores, acontecendo apresentações em escolas ou eventos culturais, com o objetivo de manter viva a memória popular, deixando de ser uma prática do dia-a-dia das pessoas para servir de objeto de atração da curiosidade da população urbana.
Como podemos verificar as práticas culturais de Simão Dias tiveram a diversidade que reflete a realidade brasileira e estiveram intrinsecamente ligadas à educação e vice-versa, de modo a compor o conjunto de uma sociedade que se colocou numa posição privilegiada no Estado.

Resumo

Este trabalho faz um resgate de parte das práticas culturais de Simão Dias SE, dando ênfase àquelas promovidas pelas Escolas, ou que exerceram uma relação estreita na formação educacional desta sociedade a partir da década de 60 – que corresponde a um período em que as Escolas têm uma atuação bastante significativa na vida cultural da cidade - até a década de 80 - quando as expressões culturais começam a sofrer algumas transformações.
As Escolas existentes nesse período que marcaram a vida cultural da cidade são: a Escola Reunida “Augusto Maynart” ; o Ginásio Industrial “Dr. Carvalho Neto ( que passa a receber o nome de Escola Técnica Estadual “ Dr. Milton Dortas”), Grupo Escolar “Fausto Cardoso” e o Colégio “Carvalho Neto”. Todas estas Escolas tiveram destaque na cidade por promoverem eventos que envolviam e deslumbravam a sociedade local. Entretanto, entre elas, sobressaíram-se o Colégio “ Carvalho Neto” e o Ginásio Industrial ( a “ Milton Dortas”) por serem maiores e pela competitividade que as envolvia e incentivava a busca pela perfeição em suas apresentações.Essa competitividade tornava-se mais evidente nas novenas do mês de Maio e nos desfiles de 7 de Setembro.
A importância destas Escolas para a vida cultural da cidade é destacada , por exemplo, através da influência na mentalidade e no comportamento cotidiano dos alunos; da integração que havia entre as Escolas e a sociedade em geral, fatos que ajudaram a compor a história de uma cidade que foi destaque no Estado.



Referências Bibliográficas

DÉDA, Carvalho. Simão Dias: Fragmentos de sua História. Aracaju: Regina, 1967.

IBGE, Censo Demográfico 2000.

MOURIN, Edgar. Cultura de Massas no Século XX: o espírito do tempo. 2ed, Rio de Janeiro: Forense, 1969.

Fontes
SANTOS, 25/01/2002
REIS, 22/08/2002
RIBEIRO, 23/08/2002
JESUS, 24/01/2002
OLIVEIRA SOBRINHO, 30/01/2002

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